O legítimo western brasileiro de Marcelo Galvão

O MATADOR

Um habitué de Gramado, o diretor Marcelo Galvão viveu experiências radicalmente opostas com os seus dois últimos longas-metragens. Em “A Despedida”, que lhe rendeu o Kikito de melhor direção em 2014, ele brinca que começava a gravar às dez da manhã e ia para casa às seis da tarde. Já em “O Matador”, que traz novamente o diretor à Serra Gaúcha, a situação ganha uma dimensão muito mais ampla: “Colegas, que dirigi em 2012, era um filme grande, mas agora é completamente diferente. Nada se compara a essa quantidade de personagens, locações, figurinos. O Matador um filme contado através de toda essa infinidade de elementos, incluindo a própria edição, onde muito do filme foi definido”, diz o diretor. Primeiro produção Original Netflix realizada no Brasil, o longa estreia ainda no segundo semestre de 2017, sem data definida.

Por falar na plataforma on demand, Galvão rejeita qualquer polêmica ou provocação que possa ser feita acerca da valoração de obras produzidas especialmente para esse formato. “O bacana é que a ideia da Netflix é promover o filme, e não a sala de cinema. Isso é importante porque quando penso em fazer um longa, penso prioritariamente nele, e não necessariamente para onde ele vai”, conta o diretor, que ainda lembra: “o meu filme foi para o cinema sim. Ele está aqui em Gramado!”. Discussões sobre on demand à parte, “O Matador” também serviu para tornar realidade um antigo desejo de Galvão: o de fazer um legítimo western brasileiro. “Nós temos contexto histórico para isso. O cangaço é real, existiu, e precisamos lançar olhares diferentes para histórias como essa”, avalia.

Ao embarcar no western, ele reconhece que entra em um terreno delicado, afinal, a questão do filme de gênero ainda enfrenta resistência no Brasil. “Eu percebo isso, mas ao mesmo jamais procurei realizar O Matador tendo como objetivo fazer um filme de gênero. Fazer um western sempre foi um desejo, já que sou fã de bang bang italiano. Na verdade, o desafio foi fazer uma superprodução, um filme de ação, o que hoje encaro como algo que pode me abrir portas”, aposta. Projetos no horizonte apontam que esse é um caminho a ser seguido na carreira do cineasta: atualmente, Galvão já prepara novos trabalhos que variam do gênero fantástico ao terror.

Já sobre o Festival de Cinema de Gramado, ele não esconde o carinho: “é tudo incrível: o carinho, a recepção, a atenção. Aqui é a minha casa”.

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