Os afetos e aplausos para “Pacarrete”

Primeiro longa do diretor Allan Deberton, “Pacarrete” é um projeto que demorou dez anos para ser concluído. Narra a história baseada em fatos reais. Pacarrete viveu em Russas, cidade natal do diretor que fica pouco mais de duas horas de Fortaleza. Ela teve que sair da Capital e voltar ao interior para cuidar  da irmã doente. Deixou o ballet. Jamais se esqueceu da dança, da arte. Mas não se ajustou  com a vida em Russas. Passava muito tempo varrendo sua calçada na praça central da cidade. Virou chacota pública por seu gosto pelo francês, pelo refinamento. A personagem vivida pela atriz Marcélia Cartaxo fez o público aplaudir efusivamente a exibição do longa no Palácio dos Festivais terça-feira à noite e, na quarta, durante o debate no hotel Serrazul. A produção tem colhido elogios emoções.

“Em Russas, ela era mais odiada do que amada. Mas quando estávamos filmando, era mais amada do que odiada. O filme é pautado no documental. Quando era pequeno, tinha medo de Pacarrete ”, contou o diretor, festejando a acolhida no Festival:

“Esta sendo emocionante essa repercussão. Gramado parecia distante da gente, mas acolhida pode contribuir para que o filme se aproxime mais do público. Me emociona quando a plateia tem acesso a essa afetividade que também está impressa nas atrizes” disse Deberton.

Festejada pela composição da personagem que sonha em dançar no dia do aniversário da cidade, pelo empenho de me fazer aulas de balé e canto e entrega à personagem, Marcélia Cartaxo fez revelações:

“Sempre tive o desejo de ser bailarina, mas não tinha condições. Ela veio tarde. Tinha quase desistido. Então virei criança para realizar esse desejo”, contou a atriz paraibana, festejando a boa acolhida de seu trabalho.

O diretor também salientou a importância de filme ter um alcance emotivo ao lidar com nuances de aletria e tristeza, assumindo referências de clássicos como “Crepúsculo dos Deuses” e “O fabuloso destino de Amélie Poulain”.

“O maior legado desse filme é mexer com as emoções. Nosso filme tem que ganhar mais espaço nos cinema, nas escolas”, disse.

As indagações voltam-se novamente para Marcélia e a condição do artista brasileiro a partir da cena em que Pacarrete e a empregada Maria divergem sobre escolher feijão ou assistir ballet.

“Tenho que trabalhar para me sustentar. E nos últimos tempos, diante da conjuntura, os projetos estão diminuindo. Mas vamos viver cada dia com dignidade e respeito. Amanhã certamente se abrirão outras portas” desabafou Marcélia.

O público então se levantou novamente para aplaudi-la de pé. E ela chorou abraçada pelo diretor.

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