Mais uma rodada de debates conduzida pelo jornalista e apresentador Roger Lerina marca o Festival de Cinema de Gramado. Na manhã desta quarta-feira, 23, foi a vez das equipes de “Dominique”, “Joãosinho da Goméa – O Rei do Candomblé”, “Matar a un muerto” e “Aos Pedaços” conversarem sobre as produções.
Com mais de 30 filmes em sua biografia, o consagrado diretor moçambicano radicado no Brasil desde o final da década de 1950 Ruy Guerra dirige “Aos Pedaços”, filme em que o personagem principal, Eurico Cruz, sabe que algo está para acontecer, um bilhete anuncia a sua morte. O espectador é levado a se questionar se os personagens existem ou se são fruto da imaginação de Eurico, vivido pelo ator Emílio de Mello. No elenco, também as atrizes Simone Spoladore e Christiana Ubach, e o ator Julio Adrião.
“Um dia estava dirigindo me surgiu a ideia de contar essa história com um homem e duas mulheres. Uns três anos depois, a ideia de que a história seria dele querendo saber qual das mulheres vai matá-lo e sem saber o porquê. Um tempo depois ainda surgiu a questão desse personagem que sofre de transtorno dissociativo de identidade. Foi aí que a história tomou de fato a sua cara verdadeira”, conta Ruy, sobre o processo de criação da trama.
A produtora Janaína Diniz Guerra, filha de Ruy, comenta que não é um tipo de cinema que se propõe a encerrar questões. “Ele se propõe a abrir questões para que o espectador complete com sua criatividade. A gente vai para o set mais cedo para todo o mundo pensar, sugerir, e isso tudo termina quando é entregue ao público. As questões não estão explicadinhas, permitem múltiplas interpretações”, reflete Janaína.
O longa “Matar a un Muerto”, dirigido por Hugo Giménez, se passa durante o regime militar no Paraguai, país que foi comandado pelo ditador Alfredo Stroessner durante 35 anos. Na história, dois homens enterram corpos clandestinamente em um bosque. Em uma manhã, descobrem alguém que ainda respira em meio a um monte de mortos. “Me parece que Brasil e Argentina elaboraram melhor esse tema. No Paraguai, ainda falta contar histórias dessa época. O cinema no Paraguai está em processo de evolução e ganhando mais qualidade. Existem muitos filmes sendo produzidos neste momento e que abordam o período. Me parece que o cinema paraguaio tem muito ainda a falar sobre isso”, comenta a produtora Gabriela Sabaté.
Os dois curtas-metragens contam histórias reais. “Dominique” de Tatiana Issa e Guto Barra traz mais uma vez para as telas da 48ª edição do Festival de Cinema de Gramado o tema da transexualidade cercado pelos dramas e violências sofridos pela população LGBTQI +, mas, sobretudo, fale de amor, do amor incondicional de uma mãe que cria sozinha três filhas trans. “Uma coisa muito importante para a gente foi tratar o tema a partir de uma visão diferente. As pessoas já tem uma visão muito específica da população LGBTQI+. Quisemos mostrar a história dela como mãe, que aceitou a orientação das filhas e as ama incondicionalmente, independentemente do que as pessoas dizem. Convidar as pessoas a enxergar essa comunidade de uma maneira diferente”, comenta a diretora Tatiana Issa. “Joãosinho da Goméa – O Rei do Candomblé”, de Janaina Oliveira ReFem e Rodrigo Dutra, conta a história do icônico pai de santo que se mudou da Bahia para o Rio no final da década de 1940 e passou a atender grandes personalidades. No filme, Joãosinho é o narrador principal de sua história, com músicas cantadas por ele e performances provocadoras. “Joãosinho simboliza a luta contra a intolerância religiosa no Brasil. Ele leva o candomblé para o teatro, é um ponto de referência. Por isso, fizemos um diálogo entre ele e Zózimo Bulbul. São dois pontos fortes de resistência, tanto no cinema quanto no candomblé”, comenta Janaína ReFem.
Ministério do Turismo, Secretaria de Estado da Cultura e Stella Artois apresentam o 48º Festival de Cinema de Gramado. Lei de Incentivo à Cultura. Patrocínio: Stella Artois. Copatrocínio: Vero, a maquininha do Banrisul. Apoio Especial: Companhia Riograndense de Saneamento – CORSAN. Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Novas Façanhas. Apoio: Adylnet/Connect City, Laghetto Hotéis, The End, Miolo Wine Group, Stemac Grupos Geradores, Cristais de Gramado, Caracol, Planalto Chocolates e Tecna. Exibidor Oficial: Canal Brasil. Agência Oficial: Vento Sul Turismo. Apoio institucional: Museu do Festival de Cinema de Gramado, SIAV RS, ACCIRS, IECINE, APTC/ABD-RS, Fundacine, Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, Ancine. Agente cultural: AM Produções. Promoção: Prefeitura de Gramado. Financiamento: Pró-Cultura/RS, Secretaria de Estado da Cultura, Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Realização: Gramadotur, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal, Pátria Amada Brasil.