Uma pequena sutileza no título do filme da Costa Rica em competição neste 46º Festival de Cinema de Gramado é a chave para entender a profundidade da obra da diretora Hilda Hidalgo, exibida na noite de quinta-feira (23).
Embora “Violeta al fín” tenha uma protagonista de 72 anos e, pelo título, possa dar a impressão ao espectador de que aborda a história de alguém que se aproxima do final da vida, ele retrata uma mulher que se reinventa. Depois de 45 anos de casamento, Violeta decide pelo divórcio. Pressionada pelos filhos a vender a casa, e pelo banco que cobra uma hipoteca que ela desconhecia ter sido feita, ela luta com os recursos que tem para assegurar seu patrimônio e sua autonomia de pensamento. “O título se refere a um processo de construção, de como ela chega ‘ao fim’ de um processo”, explica a produtora argentina radicada no México Laura Imperiale.
A liberdade de Violeta é seu jardim, um oásis no meio da cidade onde a especulação imobiliária impera. Nele frutificam mangueiras, abacateiros e limoeiros – lá residem também as memórias de seus mortos, da mãe que a ensinou a mexer na terra, do pai. Um mundo ameaçado pelo acordo do banco credor da hipoteca com uma construtora, embate que se ancora na realidade da Costa Rica. “No fundo, é também uma crítica ao próprio país, que nunca pensou em conservar seu patrimônio, sua identidade. Então Violeta não deixa de representar também essa busca do encontro consigo mesmo”, complementa a produtora.
A mesma Violeta que se rebela, é doce no cuidado com as plantas e os amigos, mistura que conquistou os espectadores no Palácio dos Festivais.
Um país com equidade de gênero no cinema
A protagonista da película que dá vida à Violeta, Eugenia Chaverri, consagrou o filme à todas as pessoas da terceira idade, discursando na noite em que foi projetado: “Quando uma pessoa completa 62 anos, ela passa a ser considerada limitada, então essa personagem é um presente para mim, porque me dá a possibilidade de defender essas pessoas”.
O filme também é provocativo sobre o lugar da mulher na sociedade, com Violeta sendo questionada o tempo todo pela ousadia de tomar suas próprias decisões sem dar ouvido a filhos ou consultar o ex-marido.
Esse aspecto feminista do filme, ao mesmo tempo em que reflete o espírito do tempo atual, também é conseqüência concreta do estado do cinema na Costa Rica. O país centro-americano ostenta a raríssima marca de ter equidade de gênero no cinema. “Hoje em dia, mais de 50% dos filmes costariquenhos são dirigidos por mulheres”, revela o diretor de fotografia de “Violeta al fín”, Nicolás Wong Díaz.
Hilda Hidalgo, diretora da obra, é uma dessas mulheres que estão à frente de projetos não só de produção de cinema, mas de fomento à sétima arte, uma vez que as duas principais iniciativas nesse sentido tiveram participação majoritária feminina na Costa Rica: a criação da lei do cinema e a fundação do centro de produção cinematográfica. “Ainda nos falta percorrer muito em termos de equidade de gênero, mas é uma realidade que me parece linda”, celebra Wong Díaz.
Ministério da Cultura, Secretaria de Estado da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer e Snowland apresentam o 46º Festival de Cinema de Gramado. Lei de Incentivo à Cultura. Patrocínio: Stella Artois e Casa Aveiro By Dolores. Copatrocínio: Banrisul – Seja Vero. Apoio especial: Gramado Parks. Apoio: Stemac Grupos Geradores, Lugano, Cristais de Gramado, Viviela London, G2 Net Sul e ENIT – Agência Nacional de Turismo da Itália. Apoio institucional: Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, Fundacine, ACCIRS, IECINE, APTC/ABD RS, SIAV e Museu do Festival de Cinema de Gramado. Agência Oficial: Vento Sul Turismo. Transporte Oficial: Kia. Agente Cultural: AM Produções. Promoção: Prefeitura de Gramado. Financiamento Pró-Cultura RS, Secretaria de Estado da Cultura, Turismo, Esporte e Lazer, Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Realização: Gramadotur, Ministério da Cultura, Governo Federal.