Exibição dos filmes pela televisão foi celebrada no debate desta segunda-feira

“Ontem foi a primeira vez que meus primos e primas assistiram a exibição de um filme meu no Brasil. Só tenho isso a dizer.” A frase do diretor Felipe Bragança de “Um animal amarelo” emocionou a equipe por trás das câmeras durante o debate dos filmes exibidos na noite de domingo porque traduz um dos mais importantes motivos que impulsionaram a organização durante os meses que antecederam o início do Festival. Apesar de todos os reveses causados pela pandemia que modificou o mundo, a certeza de que o Festival de Cinema de Gramado chegaria a um número muito maior de pessoas espalhadas por diferentes lugares foi ideia presente durante todo o processo. Felipe foi questionado sobre se a exibição do filme na tv, e não no cinema, prejudicaria a experiência do espectador. “Acho que modifica a experiência, não é uma questão de prejudicar. Foi curioso porque já passei filmes em diversos festivais, já tive filmes em cartaz, já estive em festivais muito grandes…E ontem aconteceu uma coisa muito curiosa, que não significa uma conclusão, mas foi uma sensação muito bonita. Eu cresci no Centro do Rio, mas sou de família periférica, minha família é toda da Baixada Fluminense. E ontem foi a primeira vez que meus primos e que minhas primas assistiram à primeira exibição de um filme meu no Brasil. Só tenho isso pra dizer. E não sei como digiro isso para frente”.

A atriz Sophie Charlotte que integra o elenco do longa, continuou. “Eu ia dizer isso, é lindo a família toda assistir, e assistir ‘Um animal amarelo’. Isso provocou uma conversa na minha família, que é do Pará, de trazer lendas amazônicas, de falar sobre essas pedras preciosas, das riquezas que saem de dentro, das entranhas. Foi muito rico, isso é uma potência. Se fala tanto em super produções ou não, mas poder ver (com ênfase em “ver”) o filme é tão importante, é resistência. O Canal Brasil ter aberto esse portal para passar o filme em 2020 é como uma bandeira fincada dizendo que vai ter cinema, sim. Vai ter cinema e ele vai chegar”, concluiu Sophie. O filme, que foi rodado no Brasil, Portugal e Moçambique narra a história do cineasta Fernando em busca do passado violento do seu avô. Um tragicômica fábula tropical, como define o diretor. O elenco conta também com Higor Campagnaro, Isabel Zuaa, Herson Capri, Thiago Lacerda, Márcio Vito, Tainá Medina, Catarina Wallenstein, Matamba Joaquim, Lucília Raimundo, Diogo Dória, Adriano Luz, Matheus Macena e Digão Ribeiro.

O debate sobre o longa-metragem mexicano “Días de invierno” de Jaiziel Hernández contou com a presença do diretor, da atriz Leticia Huijara e do ator Miguel Narro. O filme trata de recomeço, de personagens que querem se reinventar e superar o passado. “Depois de despedida do seu trabalho, ela precisa pensar em uma maneira de seguir adiante e é muito interessante a maneira como o filme aborda esse assunto”, comenta Letícia sobre a sua personagem.

Curtas
Os curtas-brasileiros “Atordoado, eu permaneço atento” de Henrique Amud e Lucas H. Rossi dos Santos e “Blackout” de Rossandra Leone usam os recursos do tempo para tratar de problemas sociais do presente. “Atordoado, eu permaneço atento” é um documentário que volta ao passado e costura  imagens de arquivo com a fala e as memórias do jornalista Dermi Azevedo, que foi preso político e lutou pelos direitos humanos. As práticas da época, o cerceamento de liberdade e a criminalização dos movimentos sociais são pontos de reflexão propostos.  Henrique Amud conta que o filme foi rodado poucos dias após a eleição do presidente Bolsonaro. “Governo que propaga mentiras, preconceitos… Importante traçar um paralelo do discurso do Derli com o que está acontecendo hoje”, avalia Henrique.

“Blackout” de Rossandra Leone faz uma viagem ao futuro para discutir questões como abuso de autoridade, violação de direitos, racismo, homofobia, machismo.  “Quis trazer o futuro sem sair do presente. As pessoas conseguem se ver, fica palpável esse universo. De se verem representadas mesmo… Quis uma história em que não caísse no clichê dos corpos pretos, que sempre morrem no final ou algo de muito ruim acontece”, comenta a diretora Rossandra, que conta ter selecionado a equipe com o cuidado do corte de raça e gênero. “Os dados do audiovisual são excludentes. Queríamos mulheres negras na equipe. Junto com a produtora Gabriela Freitas a gente formou uma equipe de maioria mulher, maioria da periferia”, conta.

Confira os debates aqui

 

 

Ministério do Turismo, Secretaria de Estado da Cultura e Stella Artois apresentam o 48º Festival de Cinema de Gramado. Lei de Incentivo à Cultura. Patrocínio: Stella Artois. Copatrocínio: Vero, a maquininha do Banrisul. Apoio Especial: Companhia Riograndense de Saneamento – CORSAN. Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Novas Façanhas. Apoio: Adylnet/Connect City, Laghetto Hotéis, The End, Miolo Wine Group, Stemac Grupos Geradores, Cristais de Gramado, Caracol, Planalto Chocolates e Tecna. Exibidor Oficial: Canal Brasil. Agência Oficial: Vento Sul Turismo. Apoio institucional: Museu do Festival de Cinema de Gramado, SIAV RS, ACCIRS, IECINE, APTC/ABD-RS, Fundacine, Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul, Ancine. Agente cultural: AM Produções. Promoção: Prefeitura de Gramado. Financiamento: Pró-Cultura/RS, Secretaria de Estado da Cultura, Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Realização: Gramadotur, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo, Governo Federal, Pátria Amada Brasil.

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