Segue até sexta-feira (19), a partir das 14h, no Palácio dos Festivais, a Mostra Gaúcha de Longas-Metragens, com curadoria de Caroline Zatt e Leonardo Bomfim. Os dois curadores revelam, no texto a seguir, algumas peculiaridades do que está sendo apresentado no Festival neste ano.
De um número grande de inscritos (26), a missão era selecionar apenas cinco. Dessa forma, a seleção traz um recorte heterogêneo deste momento da produção gaúcha em longa-metragem. São cinco obras muito diferentes entre si, pensando em temática e formato audiovisual. De modo geral, elas refletem sobre a identidade do povo e a sociedade do Rio Grande do Sul. Uma questão interessante é que elas pensam as mudanças pelas quais passa, especificamente, o solo deste território. Uma paisagem muito reconhecida na história do cinema gaúcho, os campos do pampa, sofrem modificações. O plantio da soja e dos eucaliptos, além do espaço que era utilizado para a pastagem do gado, também avança sobre a tradicional plantação de arroz da nossa planície litorânea.
O drama “Casa Vazia”, de Giovani Borba, filmado em Santana do Livramento, na fronteira com o Uruguai, traz a antiga figura do peão de estância gaúcha que não encontra mais lugar nessa nova configuração de espaço. O longa também aborda outros hábitos folclóricos da região e traz como tema o abigeato, além de várias outras questões emocionais dos personagens. Levou o prêmio de Melhor Fotografia no Festival do Rio.
Já o documentário “Campo Grande é o Céu”, tendo como eixo das locações Mostardas, no litoral Sul do Rio Grande do Sul, traz como norte a tradição dos grupos de cantoria de ternos em comunidades quilombolas. Embalado pela música do Grupo de Cantores de Terno Dona Quitéria da Casca e Grupo de Cantoras De Terno As Filhas do Didé, O filme dirigido por Bruna Giuliatti, Jhonatan Gomes e Sérgio Guidoux, que tem estreia brasileira nesta edição do Festival, busca nas memórias dos moradores de comunidades quilombolas de Mostardas um retrato sensível e contundente das vivências negras daquela região do sul do Brasil. Tendo como fio narrativo as histórias compartilhadas por homens e mulheres sobre o seu território, o filme revela um sentido político de existência e resistência a partir de uma dimensão coletiva. Campo Grande é o Céu foi financiado com recursos da Lei Aldir Blanc – Edital Criação e Formação – Diversidade das Culturas, da Fundação Marcopolo.
Tendo sua primeira exibição pública no Festival de Cinema de Gramado (e talvez única, como frisou o diretor Bruno de Oliveira no palco do Palácio dos Festivais), “Dog Never Raised – Cachorro inédito” foi filmado em Porto Alegre e São Leopoldo. Na trama, que o autor define como terror experimental, mas que tem toques cômicos na narrativa (uma grande homenagem ao cinema), um ladrão de rua fica obcecado com a ideia de realizar um filme após invadir um apartamento cheio de DVDs e roubar os objetos. Permeado por fetiches e obsessões, o longa mostra a relação do personagem sem nome e sem rosto com diversos artefatos que ganham, também, protagonismo no enredo. Com sequências em preto e branco e coloridas, e em formatos diferentes, além de narração em inglês, este é o terceiro longa deste realizador selecionado para a Mostra Gaúcha do Festival de Gramado.
Vencedor do Cine Ceará 2021 (melhor filme, roteiro e som), “5 Casas”, de Bruno Gularte Barreto, faz parte de seu trabalho de investigação artística e uma parte dessa produção foi apresentada em exposição no Margs. Filmado em Dom Pedrito, o filme-ensaio é um documentário de busca do diretor pelas suas memórias no interior do Estado. São cinco casas e cinco histórias que se confundem em uma mesma. Uma velha professora lutando para manter sua casa de pé, um jovem que sofre agressões por se recusar a esconder sua natureza, uma freira sendo transferida da escola que regeu com punho de ferro por décadas, um velho capataz em uma fazenda mal assombrada e o realizador audiovisual, cujos pais morreram quando ele era menino. Chamado por Merten de “Aquarius em versão gaúcha”.
Por fim, “Despedida”, da premiada dupla Luciana Mazeto e Vinícius Lopes (de Porto Alegre), que circula por vários festivais com suas obras, tem como locação principal Pelotas. A fábula infanto juvenil, cercada de fantasia, tem como protagonista Ana, uma menina de 11 anos, que viaja ao Sul do Estado no Carnaval, para o funeral de sua avó. Ela estranha o comportamento das pessoas do lugar e também de sua mãe. À noite, pela janela, ela vê o fantasma da avó entrando na floresta perto da casa da família. Quando Ana decide segui-la entre as árvores, descobre um mundo de fantasia e mistério.
Ministério do Turismo e Claro apresentam o 50° Festival de Cinema de Gramado. Lei de Incentivo à Cultura. Patrocínio Master: Laghetto Golden Multipropriedades. Patrocínio: Tônica Antarctica. Copatrocínio: TCL, Vero – A maquininha do Banrisul. Apoio: Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, Stemac Grupos Geradores, Da Magrinha, O2 Pós, Naymovie, Miolo Wine Group, Prawer Chocolates, Johnnie Walker e Tanqueray e Cristais de Gramado. Cia Aérea oficial: Azul Linhas Aéreas. Transporte Oficial: Kia. Hospedagem oficial: Laghetto Hotéis. Exibidor oficial: Canal Brasil. Exibidor regional: TVE. Apoio institucional: Museu do Festival de Cinema de Gramado, ACCIRS, APTC/ABD-RS, Fundacine, SIAV RS. Agente cultural: AM Produções. Promoção: Prefeitura Municipal de Gramado. Financiamento: IECINE, Pró-Cultura/RS, Secretaria de Estado da Cultura, Governo do Estado do Rio Grande do Sul. Realização: Gramadotur, Secretaria Especial da Cultura, Ministério do Turismo.