Com um mercado que emprega 98 mil pessoas em todo o país, o setor audiovisual brasileiro gera 25 bilhões de reais ao ano, uma fatia equivalente a 0,46% do PIB brasileiro. “É mais do que a indústria farmacêutica”, comparou a presidente da Ancine, Débora Ivanov
A participação do setor também está à frente da indústria têxtil e da produção de eletrônicos e de informática, o que mostra o peso crescente do audiovisual na economia brasileira.
Esse panorama foi tema da mesa de abertura do Gramado Film Market – Conexões, na quinta-feira, 24 de agosto, e segue em debate até o final do evento, que se propõe ser um espaço de reflexão sobre os desafios do setor audiovisual brasileiro. “Ainda há muito para fazer”, observou Ivanov, ao comparar a produção de longas-metragens brasileiros – 140 ao ano – com a dos Estados Unidos, que lança 800 películas anualmente.
Apesar de ainda distante do nível norte-americano, o Brasil vem ampliando o volume de obras e o acesso do público a elas. Atualmente, 100% das salas de cinema brasileiras são digitais – tecnologia que facilita e barateia a distribuição de filmes e melhora a qualidade das projeções. Entre 2002 e 2017, período de existência da Ancine, os ingressos vendidos somaram 2,6 bilhões de reais e, apesar de atravessar momentos mais favoráveis ao cinema nacional e outros menos, o público se mantém crescente.
“É muito difícil competirmos com a produção norte-americana. Nas últimas férias escolares, por exemplo, a cada semana entrava em cartaz um grande blockbuster: Mulher Maravilha, Homem Aranha…”, recordou a gestora.
Há também um mercado excelente em televisões, especialmente nos canais a cabo, que precisam atender à lei do cotas estabelecida pelo Governo Federal em 2011. No período em que está em atividade, já foi possível verificar um crescimento de 425% no volume de produções brasileiras nas grades da telinha. “Isso significa que os canais estão satisfeitos com o que oferecemos e que é um bom negócio também”, apontou Ivanov.
A política se mostrou tão acertada que atualmente os filmes e séries brasileiras incluídas nas grades das TV’s a cabo superam o volume mínimo estabelecido pela lei. No caso da programação infantil, a presença da produção nacional é quase o dobro do mínimo previsto.
Descentralização de recursos para incentivar a produção
Apesar disso, algumas regiões brasileiras não alcançaram o mínimo estipulado – a Sul está entre elas – e por isso a Ancine decidiu remanejar recursos para incentivar a produção local. Um edital exclusivamente para o sul do Brasil no valor de 90 milhões de reais está para ser lançado nos próximos dias.
Rio e São Paulo detém a maioria absoluta do mercado brasileiro, e o terceiro estado em volume de produção, o Rio Grande do Sul, tem apenas 4,8% de participação. Para mudar essa realidade, a Ancine decretou uma redução de 50% no valor das licenças de obras audiovisuais produzidas “fora do eixo”: “Se o canal também for fora do eixo, haverá outro abatimento”, completou a presidente da Ancine, Débora Ivanov.